Quando eu era um pequeno urso, eu escutava o barulho do trovão ou de um avião passando longe e achava que era a voz das montanhas. Isso porque eu considerava os morros de Niterói montanhas.
Se eu pudesse, abriria uma escola de artes no Morro do Cavalão em Niterói. Eu gostaria de chamá-la de "Big Horse Hill School of Arts" (em inglês para ser mais chique).
É sério. Eu morei a vida toda praticamente no pé do Cavalão. No início, tinha um muro entre meu prédio e o morro. Depois, colocaram grades no parapeito do playground. Depois uma outra grade (dessas que cercam prédios), entre as grades do playground e o muro. Depois, ainda colocaram mais uma grade com portão, numa das laterais. Agora diga-me se isso não é apartheid. É óbio que é.
Existia um pomar o prédio e o morro. As crianças do morro e as do meu prédio poderiam ter brincado juntas naquele pomar. Mas nunca brincaram.
Uma amiga me contou que, em Natal, uma duna foi destruída para dar lugar a um prédio.
Donos de empresas que constroem prédios. Eu não quero falar com vocês.
Ah, como eu queria que tivesse reforma agrária! Ah, como eu não queria que tivesse especulação imobiliária...