É possível descansar?
Chega de falar do Michael Jackson. Ontem mesmo me deixei levar pela catarse coletiva mundial e chorei feliz pois não estava chorando sozinho. Sua morte não me surpreendeu, pois tudo indicava que ele morreria em breve: seu último aniversário, passou sozinho com os filhos vendo filme em casa. Depois, apesar de estar (ninguém sabia até que ponto) com a saúde abalada, ele marca uma turnê. É uma forma de reunir a família pra dizer que o fim está próximo. Talvez ele até pensava conseguir fazer o primeiro show da turnê, mas acho que ele sabia que não chegaria ao fim desta. Ele parece ter percebido a imortalidade de sua obra e, há muito, que não precisávamos mais da sua presença para que ele "acontecesse". Marcar tantos shows parece uma maneira de tranquilizar seus filhos, seus fãs, seus amigos, família e etc. Não se preocupem, estou mais vivo que nunca. E, quando Michael sofre o ataque cardíaco, o mundo inteiro sofre, arrependido, de ter tratado tão mal quem um dia encheu nossas vidas de alegria e diversão. Fomos ingratos, acusamos e rimos de quem nos fez cantar e dançar, que nos fez pensar que éramos mais que simples ouvintes de uma música: viramos parte de uma grande onda, uma onda que varre o mundo e que sempre soube falar a qualquer pessoa do globo terrestre. Os signos que Michael usou em seus clipes eram de uma universalidade impressionante. E sua tragédia, faz dele o mito pós-moderno. Se daqui a 2.000 anos, ainda falarão do Michael Jackson? Sim, falarão! E, se sua existência é hoje um mistério para nós, calcule daqui a 2.000 anos. Michael entrará para a história da humanidade como entraram Sidarta, Moisés, Homero, Jesus Cristo, Maomé, que, enfim, em termos de história da humanidade, estavam aí até outro dia desses (na verdade, ainda estão). Não são poucas as coincidências entre Michael e Leonardo da Vinci, por exemplo, do talento absurdo às acusações polêmicas. Estou exagerando? Não, não. Pergunte ao Da Vinci, na próxima reunião espírita que puderes ir em Florença. Ele te dirá: o que é universal e sentido de forma universal não morre. Se recria a cada momento histórico. Michael, pintado de maldito desde a década de 90, era nosso salvador na década de 80.
E quanto à história dele querer ou não ser branco, pra mim (que sou urso marrom) parece coisa que só interessa aos brancos que nada melhor têm pra fazer. Já faz tempo que observei que entre as pessoas de ascendência negra e/ou moradoras de periferias e etc, isso não fazia muita diferença, visto que o Michael nunca deixou de lado suas raízes: sua música foi soul, black, funk, hip-hop, e tudo mais de música negra que você puder imaginar. Michael não renegou coisa alguma. Nós é que estávamos com os dedos apontados para ele, uma vez que já havíamos nos fartado de sua luz. Agora, choramos sua falta. Chorem mesmo. Ele morreu, mas sua música não, como disse a Madonna. E sua música nunca mudou de cor, como diz o urso aqui. Chorem como a gente chora a morte da mãe, que sacrifica sua vida pelos filhos para ouvir críticas e acusações quando estes crescem.
Isso porque eu disse "chega de falar do Michael". Como se isso fosse possível agora.
Michael reuniu a humanidade num só sentimento, no dia 25 de junho de 2009: o de perda. E o de perda de algo muito, muito valioso, que tanto soubemos louvar quanto tacar pedras.
Ele parte, deixando seu espetáculo acontecendo. Ele sabia que o funcionamento de suas células já não eram mais necessários para que ele acontecesse. Ele morre, fazendo com que, tanto este coração de urso quanto o de algum prisoneiro das Filipinas, se unam, apesar da distância. Ontem, vendo especiais sobre ele na TV, me senti parte do globo terrestre novamente, parte da humanidade (apesar de urso). Eu senti a mesma coisa que, quando eu era apenas um ursinho de 5 anos de idade, senti ao vê-lo num programa de larga audiência. Ele chegou. Ele está entre nós. Ele faz o que queríamos saber fazer. Ele dá vida à minha vida. Michael, no dia que morre, se faz mais vivo do que nunca, em telejornais do mundo inteiro. Somos um povo Michael. Um povo Jackson. Sua história jamais sairá dos nossos livros, os livros que contam a história do nosso povo. Um povo escolhido por Michael Jackson.
Don't stop till you get enough. E ele did get enough.